80 anos do Homem de Preto
Carlos Thomaz PL Albornoz. Aka Belarmino da HT
Por Belarmino
Publicado em 28/04/2025 17:30
Mundo do Rock

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Homem de Preto britânico faz 80 anos... Ritchie Blackmore, criador de vários dos melhores solos e riffs de guitarra da história, chega a essa tenra idade, ainda em atividade com seu Blackmore’s Night, a banda que tem com sua esposa, a americana Candice Night. Um homem reconhecido por seu imenso talento, só proporcional ao seu imenso ego.

 

Blackmore foi um dos membros fundadores do Deep Purple, junto com Jon Lord e Ian Paice. Com eles sobreviveu à fase mod da banda, com Rod Evans e Nick Simper, quando a banda era uma entre 256 que fazia covers de blues americanos e versões viajandonas de Beatles. Esses dois últimos saíram no final dos anos sessenta, dando lugar a Ian Gillan e Roger Glover... e a química entre eles foi explosiva. Gravaram quatro discos de estúdio estupendos (In Rock, Fireball, Machine Head e Who do we think we are), o legendário disco ao vivo Made in Japan e fizeram inúmeros shows aonde quebraram tudo, com longas jam sessions que se extendiam por 20, 30 minutos.

 

No final de 1973 Gillan e Glover saíram e foram substituídos por David Coverdale e Glenn Hughes. Ficava a dúvida: o raio cairá no mesmo lugar outra vez? Caiu... a nova formação gravou dois discos fenomenais, Burn e Stormbringer, com inusitadas influências de soul music se juntando ao já habitual hard rock influenciado por rock progressivo. Mas esse lado de soul, misturado ao funk trazido por esses dois novos membros, incomodou Blackmore, que fez seus últimos shows em 1975 e anunciou sua saída, criando uma banda para chamar de sua, o Rainbow.

 

Criada a partir do encontro de Blackmore com Ronnie James Dio, o Rainbow elevou à última potência as qualidades do Deep Purple. Hard rock clássico, influência de música medieval, solos e mais solos, uma formação com grandes músicos (Dio, Blackmore, Jimmy Bain, Tony Carey e Cozy Powell), um grande disco (Rising), uma longa turnê aonde a banda tocava em ginásios e estádios na Europa e em pequenos clubes nos EUA... que mais ele podia querer? 

 

Que tal um pouco de estabilidade? O Rainbow ficou famoso pelo rodízio de músicos em sua formação. Todos ótimos... mas era uma banda com dono, que se cansava das figuras e os demitia. O homem botou na cabeça que ia fazer sucesso nos EUA, então aderiu ao famigerado AOR, o rock de FM, formulaico ao extremo, músicas comerciais para tocar no rádio. 

 

Em 1984 aconteceu o que todos os fãs queriam, a mais famosa formação do Deep Purple (Blackmore Gillan Glover Lord Paice) se reuniu. Lançou dois belos discos (Perfect Strangers e House of Blue Light), mostrou que a química seguia lá... e se desfez, numa amarga briga entre Blackmore e Gillan, no melhor estilo ou ele ou eu. O cantor do Rainbow, Joe Lynn Turner, foi recrutado... e o resultado foi um disco que não angariou novos fãs nem agradou aos antigos, Slaves and Masters, que pelo menos serviu para trazer a banda a Porto Alegre pela primeira vez. O empresário convenceu Gillan a voltar (e Blackmore a aceita-lo), mas o mau clima seguia lá, e nosso heróis gravou um disco de má vontade (o razoável The Battle Rages On, de 1992) antes de fazer meia dúzia de shows e abandonar o Purple pela segunda vez. A banda seguiu, primeiro com Joe Satriani assumindo as seis cordas, depois com Steve Morse ocupando a vaga, hoje nas mãos de Simon McBride. 

 

Já Blackmore... montou um novo Rainbow, fez um disco (Stranger in us all) e uma turnê... e ao mesmo tempo lançou um projeto com sua nova esposa, a americana Candice Night, que acabou se tornando sua banda principal. Finalmente pode fazer o que sempre quis, que é música medieval, com muitos violões e quase nenhuma guitarra elétrica. A banda está fazendo trinta anos, para o desespero de seus fãs roqueiros. Todo ano eles fazem turnês pelos castelos da Europa, aonde os fãs vão vestidos como elfos, fadas e princesas, e eles tocam temas de quinhentos anos. Pelo menos ele está feliz.

Blackmore sempre foi um dos grandes guitarristas do rock. Criou vários dos melhores riffs e solos do estilo. Smoke on the Water, Burn, Mistreated... os solos de Highway Star e Spotlight Kid sempre são lembrados entre os melhores do estilo. E o que eram os shows da fase clássica do Purple... longos duelos entre ele e Jon Lord, o inacreditável duelo de voz e guitarra em Strande Kind of Woman... que talento... uma pena que ele parece ser, segundo todos que o conheceram, um dos seres humanos mais insuportáveis que já andou pela terra. O que gera histórias hilárias, como as que André Barcinski conta em uma crônica sua sobre um jogo de futebol que foi organizado na primeira vez que ele veio ao Brasil... aliás, reparem o bom gosto dele na escolha da camiseta do time que ele usa... bom, para nós que não temos que conviver com os humores dele fica o talento, e os inúmeros grandes momentos. Longa vida ao homem na montanha prateada...

PS: Blackmore é conhecido como o Homem de Preto britânico, pelo hábito de sempre tocar com roupas dessa cor. O homem de preto americano é o não menos lendário Johnny Cash.

 

 

 

 

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